sábado, 28 de janeiro de 2012

Festa boa no povoado das abóbras!


                                         Festa boa no povoado das Abóbras!

      
  - Não pensei que fôssemos gastar tanto - declara Dr. Luciano, candidato a vice prefeito que tem bancando a metade de todas as despesas ocorridas com a campanha eleitoral, conforme prometeu na convenção no dia da escolha dos candidatos, já percorrendo lentamente a estrada de chão batido que os levaria até o povoado das Abóbras. Deram esse nome ao povoado por conta da sua alta produção de abóboras. Acabou ficando Abóbras pelo linguajar dos moradores.
           - Poeira infernal. Tomara que este homem ganhe e se lembre de arrumar essas porqueiras de estradas – pensa Maurício que dirigia o carro levando o candidato a prefeito Dr. Benjamim, o médico Luciano candidato a vice e Bitoco.
           Bitoco é morador das Abóbras.  Bitoco produzia verduras e tirava leite. Falante e sorridente. Sempre a amostra seu dente de ouro. O canino esquerdo. Melhor pessoa para juntar os moradores daquele lugar não tinha. Mataram vaca para churrasco, fizeram paneladas de arroz e feijão tropeiro.
           Hummm! E que feijão danado de gostoso. Com pedaços saborosos de toucinho, carne de sol e pedaços de lingüiça de porco. Tudo feito no grande fogão caipira que cuspia pra fora suas imensas labaredas de fogo cor amarela.   Mandioca da roça do seu Nena não podia faltar. A deliciosa mandioca manteiga. Sequinha por dentro e derretendo por fora. Uma delicia! Sem falar nos grandes e gostosos pães da dona Zita do seu Wilsão. Comida não faltaria.  E das boas!
          Muito menos longas e sorridentes prosas! Na zona rural, dia de comício era festa. Era diversão! Mesa farta e muita moda de viola! Cachaça do alambique do seu Nestozão não podia faltar nem por reza brava. Ainda mais a invenção dele. A cachaça de banana. Um sucesso em toda a região essa pinga de banana do seu Nestozão.
          A reuinião política fora marcada pra acontecer na casa do Sr. Getúlio. Ali o alvoroço era total. Todos esperavam pela chegada do candidato a prefeito e de sua comitiva. A maioria não o conhecia pessoalmente. Uma grande multidão estava diante da casa, pois dentro já não cabia mais ninguém. Casa lotada. Aproxima-se a comitiva de três carros do Dr. Benjamim. O primeiro o trazia, sorridente, por de longe avistar tamanha multidão a esperá-los. Tibúrcio aos gritos, põe a mão para fora da caminhonete segurando um imenso foguete de oito tiros que detona cuspindo lá pró alto do céu azul claro, aquelas oito fortes explosões, anunciando a chegada festiva do prefeitável Dr. Benjamim Kamboá.
          - Santo Deus, será verdade? Em plena zona rural... de onde terá saído esse povaréu todo? - comenta Dr. Luciano.
          - Num falei? Convite meu é intimação de dotô! – exclama empolgado Bitoco. E continua Bitoco todo empolgado - E olha dotô, o povo nosso aqui precisa de tratô pra plantar e de escola pros filho!
            Alertou com sabedoria o amigo Bitoco abrindo a porta e já descendo do veículo que mal parara, cumprimentando, todo importante, seus vizinhos e amigos como se fora ele o próprio candidato.
          Entre abraços e apertos de mãos, os candidatos vão sendo empurrados até o palanque armado sobre um caminhão velho, de propriedade da serraria do amigo Santana, candidato a vereador.
O som não era dos melhores. Mas a empolgação era tanta, que parecia estar tudo ótimo. Os violeiros apresentam umas modas de viola. Cantam feito profissionais. Parecem  canarinhos-do-reino, de tão afinados!
           - E vamos ouvir agora, ele, o próximo prefeito de Marialba, Dr. Benjamim Kamboá - anunciou com voz firme e empolgada o apresentador.
Naquele momento, a equipe de coordenadores percebeu que alguma a coisa estava melhorando.  Os homens de chapéus nas mãos, apesar do sol quente de meio dia, as mulheres e jovens se apinhavam para conhecer e ouvir aquele tão famoso advogado. Algo acontecia nos corações das pessoas. Havia uma energia no ar... algo que não se sabe o quê. Um sentimento... Uma força maior se apoderava daquela multidão que não parava mais de aplaudir Benjamim após suas poucas, porém certeiras palavras. Falara do sofrimento do homem do campo, da labuta para com a terra para produzir o alimento... Da falta de apoio governamental... De pé sobre o caminhão, segurava o microfone aguardando as palmas cessar para continuar seu discurso.
Benjamim reinicia sua fala, recordando os inúmeros problemas sociais do campo. As dificuldades para produzir, escoar sobre estradas esburacadas a produção e o que é pior, a dificuldade de comercializar por preços dignos suas safras. Lamenta a dificuldade daquelas crianças para estudar. A maioria sem jeito de freqüentar a escola mais próxima que dista oito quilômetros dali. Poucas crianças, as mais persistentes, fazem diariamente este percurso no lombo do cavalo ou sobre bicicleta. E eram poucas que possuem uma. Gente humilde. Trabalham hoje para terem o que comer amanhã. E naquele momento solene, fecha um compromisso de campanha:
- Nos primeiros sessenta dias do meu governo, inauguraremos uma escola aqui no povoado das Abóbras. Não permitirei que uma criança sequer, fique sem escola durante minha administração. E mais, Vamos criar uma associação para os produtores das Abóbras, doarei um trator de pneus com todos os implementos necessários para plantios variados - de punhos cerrados e voz trêmula, Benjamim encerra seu discurso, pedindo, como filho de Marialba, uma chance para demonstrar que poderia ser tão bom administrador, quanto o era advogado. O povo vibra com as palavras do Dr. Benjamim. Gostam de sua oratória, de sua forma correta e simples de expressar... e constatam que ao contrário do que dissera naquele mesmo local dois dias antes o candidato adversário, Dr. Benjamim era, em sua essência, um homem simples e franco...verdadeiro em suas palavras. Passava confiança e credibilidade nas palavras e no olhar. O candidato adversário, Aristides Batista, havia dito dois dias antes naquele mesmo lugar, que o Benjamim era homem metido. Arrogante e só entendia, se é que realmente entendia, de advocacia. E mais, que seus amigos eram só gente da alta. Juízes, ministros et cetera. Que ele não tinha amigos humildes... lavradores, homens do campo, das mãos calejadas. Que mal sabia pra que servia uma enxada e uma foice.
             - Tirar leite de vaca!? Vai ver ele pensa que leite já dá é na caixinha – zombou Aristides Batista do Dr. Benjamim quando esteve ali. Constataram que não era verdade. O homem é gente boa. Entende da lida da roça. Conhece o sofrimento daquela gente judiada pelo descaso do prefeito atual e vereadores. Satisfeitos uns com os outros, vão todos para o churrasco que cheira gostoso, aquele cheiro de gordura pingando na brasa... “chero bão de carne assada. Comida da boa!” como diz seu Getúlio. Comida da boa, mesmo. Por um instante Dr. Benjamim e Dr. Luciano, misturados dentre aquela gente humilde, sentiram o prazer da política. O gosto de estar com povo humilde. - Maravilha!!! Exclamava Dr. Luciano rasgando nos dentes um pedaço de carne daquela imensa e quente costela assada. - Maravilha!!!
A companheirada já fazia planos de vitória. Acreditando na reviravolta. Meticuloso, Benjamim preferia não antecipar os fatos. Sugere ao amigo mais tempo de observação. - Estamos com cinco por cento nas pesquisas contra setenta do Aristides. Vamos calçados na realidade. - Disse ele, embora não escondesse sua alegria demonstrada no brilho nos olhos.

E assim seguem a vida e a campanha do Aprendiz da vida e da política, doutor Benjamim Kamboá.
* Escrito por Reinaldo Bueno