domingo, 12 de fevereiro de 2012

Aprendiz da vida e do amor - Mulher amada!


Alvino Silvanier é um homem com seus trinta e cinco anos. De altura mediana, pele alva, motivo de seu nome, cabelos e olhos de cor castanha, curtos bem cortados e excessivamente lisos. Espetados. Apesar de pouco possuir barba, mantinha o rosto sempre barbeado. Contabilista dos melhores. Com escritório há dez anos em Marialba, Alvino ocupa atualmente e, também, o cargo de gestor financeiro da campanha a prefeito do doutor Benjamim Kamboá. Alvino, pessoa serena e discreta. Escondia uma profunda dor. Ficara viúvo há pouco mais de um ano. A esposa, Maria do Carmo faleceu de um acidente na rodovia. Do Carmo, como todos a chamavam, era uma mulher dinâmica, alegre e de uma sabedoria intelectual invejável. Dominava, além do português, outros quatro idiomas. O inglês, alemão, francês e espanhol. Não era bonita mas sua alegria e elegância somadas a sua inteligência positiva e postura alegre, a faziam graciosa. Dona Rita e Dr. Benjamim gostavam de com ela exercitarem o francês. Passavam horas conversando sobre os feitos de Napoleão Bonaparte, história que DoCarmo conhecia em detalhes. Moça digna de um rei. E era assim que Alvino se sentia ao lado da sua amada. Um rei!
Num final de tarde ensolarada, o sol majestoso, guardando seus primeiros raios luzidios, enquanto ela, ao volante do seu Santana, acompanhada de duas amigas professoras e um professor, voltavam da vizinha cidade de Fortuna onde lecionavam e tinham terminado o dia laborioso. Cuidadosa ao volante como sempre e em baixa velocidade, subiam uma trecho longo e íngrime da BR. E, lá do alto descia um caminhão em alta velocidade. De repente, aconteceu o inesperado! Um dos pneus traseiros do caminhão se desprendeu. Assim! Do nada! Parafusos mal apertados que se soltaram. Veio o pneu saltitando em velocidade e aos poucos se afastando do caminhão. Invadindo a pista contrária. DoCarmo, a amada esposa do apaixonado Alvino, pela grande distância que ainda a separava do pneu que rolava velozmente dando pulos, parou no acostamento certa de que o pneu seguiria sua trajetória. Mas não! O miserável do velho pneu, este, rápido como uma flecha, repentina, estúpida e rapidamente muda seu curso colidindo espetacularmente com o Santana. O pneu bateu brutalmente sobre o para-brisa, o  vidro dianteiro do Santana, exatamente do lado da esposa aguardada em casa pelo esposo e filhos. DoCarmo, mal tivera tempo de gritar pelo socorro da Virgem Maria, da qual devota. Morrera instantaneamente! A colega, Professora Lindaura que estava no banco do passageiro, ao lado de DoCarmo, também se machucara. O osso do braço esquerdo se espatifara. Pobre Lindaura! Tão jovem e bonita... Sofrera por anos, horrores. A instituição educacional que trabalhavam, através de seus médicos, a aposentou contra sua vontade. Queria trabalhar... Fazia-lhe bem. Recuperara-se dos ferimentos, apesar das dores constantes. Precisava ocupar a mente e afugentar as tristes lembranças. O que conseguia estando trabalhando. E pior, a aposentaram e descontavam de seu rendimento, 30% do total. Mas obstinada, perseverante com a vida...Lindaura buscou restaurar seu salário e buscara outra atividade. Até por conta de seu tratamento. Das fortes dores musculares e ósseas que sentia, se aperfeiçoara com cursos sobre ervas e plantas medicinais. A bondosa Fitologia. Tornara-se uma expert no assunto dos medicamentos extraídos das plantas e competente vendedora de medicamentos naturais. 
O casal de colegas que estava no banco traseiro quase nada sofrera. O colega Sérgio que estava sentado no banco de traz, do lado da motorista DoCarmo, quebrara algumas costelas e a clavícula direita. Sofrera no rosto e peito alguns arranhões e cortes por conta dos estilados do para-brisa quebrado. E vários hematomas. Pois fora estupidamente espremido no momento do impacto do maldito pneu. Que, pesada e abruptamente, empurrara a pobre DoCarmo, que morrera na hora, com banco e tudo pra cima do professor Sérgio! O monstruoso e pesado pneu ficara intacto. 
No velório, muita tristeza e dor dos amigos e familiares. Alvino parecia um robô. Sempre abraçado aos dois filhos. Suas duas jóias de cabelos loiros e excessivamente lisos. Cesarino com dez anos e Maycon o caçula com oito. Pareciam dois anjinhos. Alvino Silvanier confortava a dor dos filhos e procurava conformava-los. Recebiam as condolências... Sempre em volta do caixão, eterno, doravante, leito da mamãe exemplar e esposa insubestituível.
Desde então, Alvino era só tristeza. Dor das entranhas... Lá do cantinho do coração eternamente machucado. Mas não perdera a fé em Deus e na vida. Esta parecia ter aumentado. Dava-lhe forças para continuar a viver... a educar o filhos e fazê-los alegres e felizes. Mesmo tendo que esconder sua saudade e dor. Pobre homem... Tão novo e já desiludido com o amor. Não lhe cabia no coração um novo amor, embora muitas fossem as mulheres por ele interessadas. Algumas ótimas e honradas moças de família. Mas Alvino só tinha olhos para os filhos, para as planilhas e relatórios contábeis, para sua função na política e para as missas aos domingos. Essas eram sagradas! Comícios ou reuniões, por consideração a sua dor e fé, tinham que ser iniciados após a missa da sete do dia de Domingo. Pobre infeliz... se tornara um beato. Estava sempre envolvido com os assuntos da igreja. Missas, reuniões de pastorais...em tudo o desolado Alvino estava metido. 
Quanto amor e dor é capaz de carregar em seu coração, o desolado Alvino? Seria ele capaz de um dia se apaixonar de novo? Entregar seu corpo, seu coração para outra mulher que não fosse a sua eterna DoCarmo? Deus, em sua sabedoria maior, ainda haverá de fazer com aquele triste homem encontre uma mulher que acenda a chama do amor em seu coração. Pois, Deus não abandona suas criaturas. Ainda mais, criaturas feito o Alvino e seus filhos, Cesarino e Maycon. Crias boas que vivem para disseminar o bem!
De, Reinaldo Bueno.
Postado em 12 de Fevereiro de 2012. Domingo.

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